Um restaurante não define necessariamente o Chef que está à sua frente, como um chefe também não define o restaurante. Sobretudo quando esta arte se transforma num negócio, em números, receitas (financeiras) e notoriedade.
Não sou ingénuo ao ponto de pensar que alguém se mete numa aventura destas apenas motivado pela paixão pelo mundo da comida. Mas eu sempre fui da opinião que ter um restaurante é como viver um amor. Nenhum deles se pode partilhar ou dividir. Requerem trabalho, atenção permanente e exclusividade absoluta. A não ser assim obtém-se a receita do desastre.
É o que acontece com o Cais da Pedra. Não é que a comida seja má, que os empregados sejam antipáticos ou que o espaço seja desagradável. Antes pelo contrário. A comida não é má, os empregados não são antipáticos, e o espaço não é desagradável. Mas não vai além disso, e para mim não chega. Para mim é preciso sair a pensar que a comida é óptima, o serviço é maravilhoso e o espaço é deslumbrante. A pensar que, apesar de ter acabado, valeu a pena viver esse momento.
Do que falo não é de uma comida necessariamente inovadora ou complexa, não falo de um serviço profissionalmente correcto, ou de um espaço de cortar a respiração. Falo de um lugar onde me sinta em casa. Onde perceba que as pessoas que lá trabalham se preocupam verdadeiramente conosco, com o nosso bem estar. Que estão contentes de lá estar, orgulhosas do que têm, e com um sentimento de que aquilo também é deles. E isso não é fácil de conseguir. É preciso, acima de tudo, haver amor. E como diria o sabedor JP: "para haver amor, não pode haver obrigação!".
Aqui não acontece nada disso. É a despachar. E, excluindo as famosas casas de fast food, as cantinas ou os refeitórios de self service, onde a ideia é mesmo essa, um restaurante, como um amor, não pode ser a despachar. Senão não resulta. E para mim, este não resulta.
Tenho pena, porque o Chef é bom, o conceito, a qualidade e as ideias também. Mas falta o ingrediente principal: amor e dedicação. Às pessoas, não às mais valias.